Fé por Stella Rebecchi

Por Stella Rebecchi

Há mais de um mês tenho uma dor do pescoço brava. Não posso tomar anti-inflamatórios. Aprendi durante minha vida longa, monte de técnicas
vindas do céu, da física quântica, até das bruxarias para auto cura. Tento fazê-las, mas estou sem o foco necessário para começarem a dar certo.
Para funcionarem, é preciso tempo, persistência, atenção total e antes de tudo, ter fé. Venho buscando fé desde que a perdi no jardim do colégio,
após uma missa, onde vi a notre mère (nós alunas chamávamos a madre superiora de notre mère, chique não?!) a olhar longamente, com muito
interesse para as unhas, bem no meio da consagração, entre um sininho e outro. Eu também não deveria estar de olhos abertos olhando para a
freira com olhar de crítica bisbilhoteira. Culpa! Aí pensei: mas não é para fechar os olhos, abaixar a cabeça e acreditar que ali no cálice havia sangue
e na hóstia grande, o corpo todo de Jesus? Então como ela, vaidosamente, olha para as unhas? Bem ela!


Acabada a missa fui para o jardim meditar sobre isso. E minha fé perdeu a graça. Por essa bobagem, que poderia estar sendo muito mal interpretada por mim. Ou, mais certo, vai ver que a minha fé era muito frágil. Uma grande frustração cobriu meu corpo todo. Feito um manto preto. Eu que fazia retiros espirituais em casa e não deixava ninguém chegar perto de meu altarzinho, para não contaminar de sentimentos dos sem fé. Onde me recolhia no silêncio, jejuava, meus santinhos eram sagrados, meu terço, enfim, um arsenal de fé arrumado num canto…
Ficou muito esquisito. Comecei a questionar tudo; como foi povoada a terra se só tinha Adão, Eva, Caim e Abel. Se Caim matou Abel e só sobrou
Caim, Adão não podia sozinho dar conta de povoar a terra. Caim era filho de Eva, e assim minhas noites foram ficando cada vez mais agitadas, com
pensamentos delirantes a respeito de textos sagrados.

Culpa de novo! Baita culpa por estes pensamentos que procurava perdão através dos buraquinhos do confessionário. Piorou quando, numa aula de religião, um quadro de Abraão, quase imolando o filho, me levou à noites sem dormir e pesadelos horríveis. E passei a questionar Deus. Mais culpa! E elas, as mestras freiras, não tinham resposta para minhas perguntas. Olhavam com olhar que eu não conseguia saber de quê. Parei de perguntar. Elas passaram a entender como queriam e começaram a me questionar a respeito do que eu sabia a respeito de filhos e como fazê-los. Eu já sabia como era esperar o nenê dentro da barriga, e de como ele nascia. Por causa das vacas, cadelas que viviam à minha volta nas férias na roça. Para elas, as “ma mère (s)” isso era inconcebível na minha idade, nove, dez anos. Eu não tinha nenhum interesse sobre como eram feitos. Nem passava pela cabeça.E uma delas fazia perguntas bem maliciosas a respeito de papai e mamãe. Melhor deixar pra lá. Faz muito tempo.No admissão me convidaram a me retirar do colégio. Me retirei feliz!

Bem, estava falando de dor no pescoço! Somatização pandêmica sem dúvida. Da fé necessária para a cura. De quanto, e como venho buscando durante tanto tempo. Alguns anos membro Rosa Cruz, aprendendo passes em Centros de Umbanda, as missas católicas que gosto muito por
causa do padre de São Conrado, Centros Espíritas que frequento até hoje, Irmandades de Luz, terapias de várias linhas, Xamanismo, estudos
exotéricos e esotéricos. Fora a quantidade de trabalhos em grupo que participei e ofereci. Sem sombra de dúvida, acabei por adquiri compulsão
por livros e estudos do gênero. E é impressionante como estou atraindo pessoas iluminadas para meu lado, me ensinando mais e mais.
Agora, neste momento de peste e teste, estou dando passinhos de nenê no encontro da fé, devagarzinho. É muito bom! Amém?! Amém.

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