QUARTO PASSO
Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos
Por Stella Rebecchi
É um passo de ação. Saímos do mental e passamos a agir, acreditando que, do momento que nos dispomos, com coragem e vontade, a ver escritos nossos segredos (somos tão doentes quanto nossos segredos), aterramos aquilo que pensamos que foram nossos “pecados”.
Enquanto sob o efeito de nossas compulsões, sejam elas quais forem, agimos de acordo com elas e não como realmente somos. Perdemos o prumo, o equilíbrio, nossa energia vital se enfraquece e dança totalmente fora do ritmo. Começamos a isolar-nos porque achamos que ninguém nos acompanha nos pensamentos e nas ações. E também porque nos sentimos envergonhados, algumas vezes, em demonstrar nosso comportamento.
Aqui vai um pequeno exemplo: Elza gostava de chocolates. Com o tempo passou a comer mais chocolates. Com mais tempo começou a engordar e perdeu o controle sobre a comilança dos chocolates. Foi ficando preocupada, chateada, mas não conseguia evitar comer, cada vez mais chocolates. Guardava dinheiro só para comprar os benditos. E às vezes , não tendo, assaltava a bolsa da mãe. Brigavam muito com ela e para parar de ouvir tanta chateação, passou a comer escondido. E escondia em lugares onde achava que ninguém ia achar! E com o tempo, foi ficando mais gorda, mais inchada, o fígado começou a pifar, assim como a vesícula,o pâncreas, apareceu a diabete. Mas Elza não queria nem saber, se escondia, se isolava, não ia mais ao colégio porque era alvo de bulling, não saía com colegas, namorar… ninguém queria saber dela, chorava e misturava lágrimas salgadas com o doce do chocolate.
O Quarto Passo nos ajuda a colocar tudo em perspectiva outra vez. Tudo que estava por baixo escondido e não vemos, nem queremos ver. Há um ditado que diz: “não é o que sabemos ou não sabemos, mas o que achamos ser verdade e não é”.
Escrever é um método muito antigo de autoconhecimento utilizado por pessoas notáveis como Santo Agostinho e Pascal. Nos tempos modernos existem metodologias de crescimento pessoal que utiliza a manutenção de um diário. Mostram experiências do passado, como épocas de exaltação ou depressão, raiva, fracassos, momentos de esperança, sucessos parciais, etc. Para nosso foco, sugerimos, para começar, que sejam feitas listas como:
1-De quem temos ressentimento e por que. Qual a causa.
2- Como esse sentimento me afeta. O que sentimos verdadeiramente e me leva a agir desse ou daquele jeito.
3- Que comportamentos que venho tendo e no fundo gostaria que não tivessem acontecido, que me levam ao arrependimento ou, ao autoengano, e à mentira.
Na vida social, na escola, no trabalho, em casa, na saúde, no amor, qualquer lugar. Esses passinhos são o que chamo de baby-steps, um inicio para poder enxergar com mais facilidade e clareza, com honestidade, o que está acontecendo, já que essa compulsão está preocupando. Com o tempo poderemos aprofundar cada vez mais. E os exercícios de aprofundamento estarão em outra página, antes do Quinto Passo.
Quero esclarecer que esse exercício escrito não é um inventário imoral, é moral, de memória, de coisas importantes, não só os que envergonham, como exemplo, sobre alguns desvios de sexo, mas momentos felizes, positivos. E deixar espaço na folha para ir podendo acrescentar o que aparecerá mais para frente. Nele estamos reconhecendo o que sempre aconteceu, não só sob o efeito de alguma compulsão, mas talvez a vida toda. Fica atento! Não é uma vida e sim uma seleção de eventos. Não se preocupe com a forma, ortografia, São seus eventos, acontecimento sempre rico, pedaços de sua história que devem ser respeitados por você. É um material mágico, e precioso. É a maneira primordial para que entendamos a nós e as outras pessoas. Não pode permanecer encarcerado. E o que não está bom, pode ser mudado sem o autoflagelo.
Amor e misericórdia por você! Coragem !
