SETEMBRO – Atenção ao suicídio por Stella Rebecchi

SETEMBRO  – Atenção ao suicídio

Por Stella Rebecchi

O caminho do coração é o caminho da coragem. Coragem é o que necessitamos hoje e sempre para nos enfrentarmos (sim, somos nosso próprio perigo) e aos embates do cotidiano.

O cotidiano é viver na insegurança, no súbito, na finitude, na impermanência, no desconhecido das pestes e de outros desconhecidos. Aceitar que a vida não é uma Disneylandia, que não viemos fazer turismo, e que, qualquer tipo de perigo e dor, está o tempo todo presente.  Porém, a mente e o coração estão em alerta a enfrentar riscos e vão em frente com determinação, desde que estejamos conscientes. Como disse Dalai Lama,” nossa mente é luminosa”. Podemos ter confiança e fé e daí, nasce a coragem. A coragem que precisamos para viver quando achamos que a vida é injusta conosco. Achamos. 

Não queria falar de SUICIDIO, mas é o tema do mês, triste e assustador. Assunto preconceituoso e considerado tabu. Visto como pessoas fracassadas, fracas ou doidas.  Crescendo assustadoramente: De 10 a 20 milhões de pessoas no mundo se suicidam ao ano. E a cada morte, de seis a dez pessoas são diretamente impactadas, sofrendo sérias consequências e difíceis de serem reparadas. Assunto que deve ser tratado com muito mais responsabilidade e clareza do que vem sendo até os dias de hoje. O suicídio é o final do túnel da depressão. 

Antigamente eu ouvia falar nos meninos japoneses e chineses, que eram tão cobrados e não podiam ter nenhum tipo de embaraço em suas performances. Por não serem aceitos por seus erros mais banais, preferiam morrer a serem alvos da vergonha familiar. Até hoje esse índice é alto e inclui a angústia com o futuro, os dramas familiares e o bullyng. Também é dramático, no Japão, o índice de suicídio por mulheres das áreas rurais. 

  

No passado os samurais japoneses cometiam o “seppuku”, um ritual suicida como ato de coragem. Nesse caso não era suicídio e sim autocondenação à morte por uma questão de honra. Nos nossos tempos, os idosos, principalmente a partir de 70 anos com a solidão e o abandono de seus amigos e familiares, as mortes, a falta de motivação e o sentimento de ser inútil ou um estorvo, a falta de espiritualidade e religiosidade, a falta de dinheiro e vários motivos mais, estão colocando fim na vida, quando conseguem ter coragem.                                                                                                                                                     

O número de adolescentes (a terceira causa de morte entre os adolescentes nos EUA) vem crescendo. As questões culturais e socioeconômicas estão povoando constantemente a mente deles. Meus netos tiveram dois casos de amigos próximos e ainda menores de idade, em Ribeirão Preto, SP. Não aparentavam desamparo, nem abuso de drogas, tinham família com posses, etc. Ou, alguns sinais não eram notados pelos familiares e pessoas próximas. O que é muito comum. O uso de drogas e abuso de álcool, que pode levar à depressão, a pensamentos obsessivos, aos  sentimentos de menos valia, tipo  “não tenho mais jeito, não me vejo no futuro, sou um/uma  merda ,quero morrer ou ameaças de vou me matar”, foram frases que ouvi em consultório por algumas vezes. Um alerta que tem que ser levado a muito a sério. Não são chantagens, são verdadeiros e de quem tem dramas internos fortes. 

PRECONCEITO – Muitos, pertencentes aos dos grupos de LGBT, já tentaram acabar com a vida numa proporção inacreditável e absurda. Será que têm ajuda necessária? Que são respeitados?Poderia escrever páginas e mais páginas sobre o preconceito e intolerância.  A ignorância do ser humano, a desumanização. 

O BULLYNG, que acaba com a segurança e autoestima de muitos e muitos jovens. Uma crueldade, típica do ser humano descontrolado e com problemas de imaturidade, de autoestima e outros mais. Reforçado muitas vezes pelo próprio pai ou familiar.  O medo do futuro  (e do presente), a ansiedade, o fracasso a humilhação, todos esses sentimentos vão se tornando insuportáveis. A constatação de algumas pessoas de sua realidade difícil, e da realidade do mundo, não tendo nenhuma esperança de dias melhores, acha que a solução é acabar com a vida.  São fatores externos e internos.  Repetindo, os transtornos mentais como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, personalidade impulsiva/agressiva, são criaturas mais fragilizadas e suas escolhas são levadas por um estado de desequilibro, acabando por achar que a morte é a solução mais simples para acabar com sua dor, desconforto e sofrimento.

Quando era jovem, tive herpes zoster no rosto e na cabeça. Não havia vacina ou remédios que pudessem amenizar as dores que eram insuportáveis. Isso foi há muitos anos atrás. Nessa ocasião, pedi muito para morrer, não achava que suportaria mais nem um segundo aquela dor que nem morfina dava jeito. Só pensava, de verdade, em morrer. Nem minha boa vida, nem meus filhos pequenos me tiravam desse pensamento. Estava continuamente emorfinada! Via como um modo de acabar com aquele horror que estava passando. Era apenas pensamento. Nunca pensei em como seria a ação.  Mas existia. Sabia ser passageiro. Quantas pessoas doentes, em sofrimento, pensam em acabar com a vida? Seria válido?

Somo seres ambivalentes, cheios de ideias conflitantes. O suicídio pode ser sim uma doença mental. Como a compulsão.   É um momento crítico que pode ser superado. Há que ser percebido. O comportamento vai mudando, dando sinais.  Suicidas começam a ter uma visão negativa da vida e do futuro. Pode ser percebido por meio da escrita ou do desenho em crianças, diminuição do cuidado com o corpo, isolamento, mudança de humor, autodestruição como a auto- mutilação.  A auto-mutilação é uma tentativa  de aliviar a dor do coração.Quantas pessoas famosas e aparentemente com tudo ,sofrem desse mal? 

Esse problema , esse desafio , demanda  mais atenção dos familiares, amigos e professores. Deve ser falado, explorado, colocado pra fora sem medo ou vergonha.  E aceito com respeito. Jamais não levado a sério, debochado, ignorado. Mostrar interesse, ouvidos e coração aberto, assim como a compaixão e o colo! Sim, colo, aquele colo que podemos ter 80 anos, e ainda queremos. Precisamos dar espaço aos sentimentos de angústia, tristeza, insegurança, medo, solidão. O suicida precisa de ser cuidado por psiquiatras ,  psicólogos, qualquer um que comece com psi. Como o dentista cuida de nossos dentes, deveríamos ter um psi desde a infância.  O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida. Na maioria das vezes não tem nada a ver com as coisas exteriores, como beleza, conforto, riqueza. São sentimentos mais profundos, incompreendidos, às vezes assustadores para eles mesmos. Parece que perdem o controle das coisas, perdem a segurança, perdem o sentido da vida.

Como diz Viviane Mosé, filósofa, psicóloga, poeta, “enfrentamos um esgotamento civilizatório e humano. Vivemos uma exaustão ambiental, econômica e do modelo de ser humano que criamos. Vivemos o ódio à vida em forma de depressão, terrorismo, suicídio, feminicídio, racismo e preconceito”.  E mais a pandemia, que poucos conseguem levar e tirar o melhor proveito dela.   Esses são alguns problemas . Outros vem da alma, sem motivo aparente, podem vir da família e até , para quem acredita, de outras vidas

Mas tudo pode ser diferente. 

O que podemos fazer para evitar que mais vidas sejam perdidas, aquelas que se vão voluntariamente? Podemos refletir mais profundamente  para sermos  úteis, de ajuda para o próximo, que pode estar mais próximo do que pensamos. E para todos nós, suicidas da dádiva da vida, pelo pouco caso que a levamos, que maltratamos nosso corpo, a casa de nosso espírito… por que: Certamente nos falta fé, falta confiança, segurança, autoconhecimento, compaixão, tudo que encobre a percepção de nosso verdadeiro EU.  Não é fácil ter fé e confiança. Principalmente a confiança em nós mesmos. Estes sentimentos são os que nos fortalecem. Que fortalecem nosso timo, nosso Sistema Imunológico.  Misericórdia por nós mesmo!                                                                                                 

A frase do Mestre Jesus que mais deveríamos levar a sério: “Conhece a Verdade e ela te fará livre”. Antes de querer acabar com o milagre da vida, a grande dádiva que nos foi dada:  “Confie e trabalhe incansavelmente pela solução de seus problemas” (Ernance Dufaux)

 Nas lutas mentais, nos impulsos, nos comportamentos insanos, nas batalhas cruéis, PARE, respire profundamente no peito, converse consigo mesmo, RECONHEÇA que está em desequilíbrio, pense duas, três vezes, espere passar o pior momento, busque a força na Fonte, em seu Eu Superior, no Grande Espírito, Deus, porque dessa forma encontrará as mil possibilidades de cuidar de você. 

Lembre-se que a vida é sagrada e a “mente humana é luminosa”. ( Dalai Lama)

Uma resposta

  1. Texto carregado de Verdade. Situações que estão ao nosso lado e muitas vezes não vemos. A humanidade afastada de Si, do seu melhor, cega, surda e muda para seu semelhante.

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