Não estamos sozinhos por Stella Rebecchi

NÃO ESTAMOS SOZINHOS

Por Stella Rebecchi

Uma ruga funda aparece entre minhas sobrancelhas, e percebo que minha boca cai todas as vezes em que penso ou me informo sobre o assunto “abuso de álcool”.   Quanto mais se luta para combater e acreditar que possa melhorar, tudo piora de uma forma assustadora. Estou falando de beber cada vez mais.  Beber bebida alcoólica. Faz tempo que escrevi sobre meninas abusando de álcool e outras drogas. Nem imaginava que iria escrever sobre esse assunto, debaixo de uma pandemia mundial onde o medo, a ansiedade, o confinamento contribuem para ter mais uma desculpa para se “tomar uma”.

Sabemos que o alcoolismo é uma doença, assim como qualquer forma de dependência. Até hoje não se sabe muito bem de onde ela vem, se a pessoa nasce com um chip diferente, se é hereditária, se é do hábito. Sabemos que o hábito, costume, e a quantidade também podem levar à dependência. Por isso, preste atenção.     

                                                                                                       

Pra mim, não interessa de onde ela vem e sim para aonde ela vai e aonde ela vai parar.  A diferença entre um bebedor ou uma bebedora  problema, de um portador/a da doença do alcoolismo,  é o controle. O dependente de álcool, ou alcoólatra, não é aquele que bebe um pouco, eu disse um pouco, todos os dias e para, vai fazer outras coisas ou vai dormir. A diferença está na forma, e  na falta de controle. 

 Quando começa não consegue parar. Perde o controle, a bebida é que manda.É muito mais forte a necessidade de beber do que parar. Nenhuma promessa ou jura pode ser cumprida. Nem por amor, nem por Deus. 

Quer beber mais, quer companhia na maioria das vezes, troca de bebida achando que bebendo destilada por fermentada, vai poder segurar a onda. E daí começam as consequências de forma ligeira: Olhos vermelhos, alegria e amorosidade 

exacerbada, perda da timidez, boca meio mole, falação, discurso, cantoria, declarações de amor e amizade, e daí por diante. Com o passar do tempo,( é uma doença lenta e progressiva) o humor é totalmente modificado, o comportamento vira do avesso, e como disse Vinicius de Moraes, “ da alegria fez-se o pranto”. Do amor; às queixas, da música; à tristeza, do ânimo; à preguiça, do honesto; ao ladrão, do beijo; ao tapa, do rico; ao pobre, do anjo; ao demônio, do equilibrado; ao louco, da santa;  à vadia…

E lá se vão por água abaixo todas as virtudes, conquistas, glórias. Esta doença não tem piedade, mostra tudo que foi  perdido, a conquista do pior, e a perda da vontade, da coragem e da fé.

Misericórdia por todos os alcoólicos do mundo! 

E  agora, nesta pandemia que nos pegou de surpresa? Que não sabemos quase nada? Que o momento é incerto, assustador e o futuro parece cada vez mais longe? 

Piedade Senhor!

Pela minha pesquisa, com assessoria de jovens muito bem informados, no momento, enclausurados e bem desanimados, fui informada  de que aumentou muito o uso de maconha e de bebidas alcoólicas, principalmente cerveja. Pena. Desorientados,  com medo, mesmo com novas formas de trabalho, de estudo, cursos on-line, filmes, séries, ajuda em casa, sobra muito tempo de ócio para ser vivido, durante o dia e `a noite. Namoro, sexo, baladas, como fica?                           

Ou não fica? Arriscam? E vão se drogando também de filmes, séries e etc . 

Por não haver uma data limite de esperança, por nunca termos passado por esta experiência, por não querermos saber muito de detalhes trágicos e mórbidos, por não sabermos até quando o dinheiro vai dar e se vai acabar, quantos mais vão morrer na solidão e na dor?                               

A ansiedade é grande. O confinamento leva à irritabilidade, ao mau humor, impaciência, medo. Esses sentimentos levam à falta de paciência, mostram nossa sombra mais escura, mostram nossa violência verbal e física.Todo tipo de agressividade vem à tona nos momentos que deveriam ser de união, companheirismo, compartilhamento.

Voltando aos bebedores compulsivos, aos biriteiros incansáveis, o fechamento dos grupos de Alcoólicos Anônimos, deixou muita gente na mão, no ora veja, e no desespero. Muita insegurança e medo, principalmente dos familiares que perderam a esperança de ter seu doente em recuperação. Imaginar o que poderá acontecer a uma pessoa alcoólatra sem beber, sem emprego, sem dinheiro e sem poder sair de casa, já é motivo de muito pânico.                                  

Nasce uma nova doença, a Cor-insana. 

Porém, nem tudo está perdido! A descoberta de reuniões de AA on line, e certamente de AL-Anon, mostra que é possível manter a sobriedade num momento tão difícil como este. E mais, são essas pessoas que por estarem nesse programa, conseguem manter a paz, a esperança e a serenidade em casa.  AA tem sido mais que nunca de uma ajuda sem tamanho. Foi com enorme emoção que ontem fiz parte de uma dessas reuniões, com pessoas dedicadas e comprometidas que estão ajudando, sendo úteis, agora da forma moderna, a muitas pessoas. 

Todas as informações estão nos sites:

www.aaonlin.com.br       www.aa.org.br

www.al-anon.org.br

Al-Anon : 21-2220-5065

E disque 180 ou 100 para agressividade, violência e serviços.

 

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