A ressaca física, com alguns comprimidos, água, sucos, até em 30 minutos pode passar dependendo da situação do fígado. A sede, a dor de cabeça, tudo é facilmente resolvível. A ressaca moral, não. Essa pode demorar manhãs, tardes, noites, dias… Aquele sentimento horrível de dor, culpa, humilhação, de vergonha por não lembrar o que aconteceu na noite anterior.
O que falei, o que fiz? Ofendi ou debochei? Será que fui mais adiante, dancei, rebolei, tirei a roupa, dei em cima de alguém e acabei dando pra esse alguém desenfreadamente, no último da luxúria, sem saber quem era? Dia seguinte, ai… Nem sei onde e como fui parar lá! Ou arrumei briga, xinguei, baixei o nível, bati, arranhei, machuquei, abandonei uma criança chorando, fui parar na delegacia crente de que estava com toda a razão.
A ressaca moral machuca. Fora o mau humor. A respiração diminui, o coração encolhe e entra em descompasso. Ela bate ao acordar no dia seguinte com taquicardia, peito mole que nem gelatina. Se temos algum companheiro ou companheira ao lado, na cama, amigo ou familiar por perto, ficamos mudas, imóveis, com medo de ouvir a gritaria eterna das acusações. Vontade de se embrulhar nas cobertas, rezar para que esteja chovendo, caindo uma tempestade com raios e trovões num céu negro. Cobrir a cabeça e morrer.
Normalmente, a ressaca moral é consequência de um descontrole, mesmo se estivermos a fim de encher a cara, conscientes, por algum motivo. Nunca contamos com as consequências, que são tão malignamente poderosas. Podemos comparar à ressaca do mar, com ondas altas, agitadas, que se encontram e se batem, invadindo o sossego da praia.
Não existe só a ressaca pelo álcool. Também existe aquela recaída emocional, sem álcool, que acaba por machucar bastante. Nós nos comprometemos conosco a amadurecer, acalmar, espiritualizar, meditar, e num dia de extremo estresse caímos do galho, rodamos a baiana, berramos, xingamos, empurramos, o prumo vai embora e o mal está feito. Consequência: ressaca moral. Mas essa, sem álcool, passa com uma boa dose de humildade e uma reparação sincera. A outra não.
Muito poderíamos dizer sobre a ressaca moral. Esses exemplos somente ilustram o que acontece com os excessos – das substâncias e dos comportamentos.
Não esqueçamos que somos humanos e, enquanto humanos, falhamos. Estamos por aqui para aprender a se ver, a se conhecer e a se perdoar.
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Apenas como informação:
A ressaca moral é consequência do Bingen Drinking, que significa beber em grandes quantidades até que os níveis de concentração de álcool no sangue possam atingir 0,08 DL. Padrão equivalente a cinco doses ou mais para homens ou quatro ou mais para mulheres consumidas num prazo de duas horas. Seis doses em uma única ocasião equivalem a seis ou mais latinhas de cerveja de 350 ml. Uma dose pode conter de 12 a 10 gramas de etanol puro. (fonte: Centers for Disease Control and Prevention)
