Poema do desespero. Ou oração? (2022)

Dá-me!
Dá-me a luz que preciso para enxergar o que vai longe,
dá-me, dá-me muito mais luz
pra enxergar o que vai dentro.

Dá-me a lucidez que preciso para perceber o real, o simples, o verdadeiro,
entender que o horizonte deste mar é infinito,
como infinito é meu viver.

Olho o mar todos os dias, ora manso, ora agitado, incansável.
Quando vai chover, antes, ele repousa, respira e aguarda a ventania, o temporal.
Na maré de lua cheia, mil deusas contemplam, as marés que sobem e descem, como eu.

Tanto medo do mar…
Mas quero ficar dentro dele, flutuando, boiando, sargando
em sua espuma de sal.
Ela me leva pra qualquer lugar.

No qualquer lugar, grito!
Dá-me meu filho de volta! Deixa eu sentir seu abraço aconchegando meu corpo,
um abraço de amor com força, onde meu rosto se enfia em seu peito, ouvindo seu coração, que agora não bate mais.

Preciso ouvir de novo: “já pachou, já pachou, muquito malvado!”

Dá-me a luz da esperança e da fé. Não sei onde estão.

Saudade é um bicho duro, aparece de repente de um barulho, de um perfume de sabonete, de uma música, um lugar, Paraty na lua nova.
Com ela vem sofrimento, vem gemidos baixos de dor,
depois altos, dor visceral se tornando um grito primal.

Agora entendo o que é.
Vou deitar, me encolher na cama e rezar para sonhar.
Ter sono, o descanso na escuridão sem o descompasso no coração, sem horror, sem visões.

Dá-me leveza para viajar pelo infinito, onde sei que vou haurir forças para mais um dia, rendida, entregue, aguardando essa bendita luz.

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