Há alguns dias escrevi sobre Alegria de Viver…

Há alguns dias escrevi sobre Alegria de Viver, que independe do momento histórico atual. Alegria de viver se encontra dentro de nós não importa o momento. É uma serenidade, uma aceitação vinda da auto segurança, de um auto centramento que proporciona bem estar.

Todos os dias a mídia nos intoxica. Todos os dias tento não pirar. Procuro sentir alegria e gratidão porque estou com saúde, em casa com meu marido, sei que minha família está bem, sinto saudades porque todos moram fora do Rio. E daí? Não posso vê-los mesmo. Ainda bem que existem os benditos telefones. Procuro aceitar a situação, tentar entender o que é “inentendível”, colocar a atenção em minha respiração para descobrir onde está localizado o medo, a raiva, a tristeza. E sentir.

Há alguns dias escrevi sobre a alegria de viver…

 

Não adianta fingir que tudo bem porque não está. E só depois de entrar nesses sentimentos, chorar, se possível, vou me sentir bem, equilibrada e serena. As mortes começaram a chegar mais perto, que antes eram só na TV. Comecei a sentir com mais força a tristeza e o medo. Com a notícia de um amigo de São Paulo que tinha partido, e ontem, outro amigo, muito próximo, que também se foi, ficou duro. Este, o mais alegre de todos os alegres inteligentes, depois de penar no hospital, entubado, furado, machucado, numa solidão sem fim, partiu e eu realizo com mais clareza o que esta peste está causando.                                                                                              

Talvez, por um mecanismo de defesa, amenizamos esse vírus, que de tão pequeno, chega a ser inacreditável. Talvez agente não queira acreditar, nem aceitar, já que estamos acostumados às grandes batalhas, aos tiroteios em minha janela, grandes guerras, grandes armas e ferramentas. Altas brigas, negociações sem fim, séculos de blá,blá, blá, e de repente, de um segundo para o outro, sem avisar, um “negucim” tão pequeno, detona o mundo todo nos levando à constatação do tamanho diminuto de nós mesmos.       

Já era de se esperar visto que só machucamos e destruímos nosso deslumbrante planeta. O assunto não é este. Não é o que quero falar.  O que me assustou foi que pessoas muito próximas estão indo embora, independente do dinheiro que tinham, da casa que moravam, do jeito que viviam.                                                                   

Tomar cuidado, mesmo parecendo que de nada adianta, é o que nos resta. Cuidar-nos para também cuidar dos outros.Ninguém sabe muito bem como lidar com essa peste. Perdão, perdão para todos, nunca ninguém passou por isso. 

Nunca ninguém pareceu tanto com baratas tontas, perdidas, buscando, pesquisando, muitos se aproveitando, uns achando soluções, outros piorando a situação, criando carmas dramáticos e que vão acabar se dando muito mal.

Que não leve os bons junto.

Continuarei me cuidando com máscaras bem feitas e fortes, água sanitária, água benta, desinfetantes no pano da entrada de casa, lavando tudo que chegar com água e sabão ou álcool, não me expondo na rua, não indo a canto nenhum e fazendo de meu tempo, agora pra lá de disponível, um tempo bom, com música de fundo, com cheiros e aromas na cozinha, na sala, no quarto, com livros há tempos querendo ser lidos, vendo cada vez mais o céu, um monte de passarinhos que nunca tinha notado, e outras tantas coisas boas que basta eu querer vê-las, para meu dia se tornar mais produtivo, mais aceitável e muito mais bonito. E não fico nisso, sempre ligada no Décimo Segundo Passo de AA,  procuro ser útil a terceiros que precisam de uma mão,  da forma que posso. 

Pelos meus amigos que se foram e tantos outros que nunca ouvi falar, faço um oração para que o céu esteja aberto a todos eles, repletos de seres iluminados, que cheguem sem dor, sem miséria, sem medo, apenas pura luz, magia e beleza!

Por Stella Rebecchi

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