Comida da alma

Oi Stella

Meu nome é Bernardo, moro em São Paulo, sou um homem de 45 anos, solteiro e professor. Tive vários sonhos frustrados, empregos mal remunerados e, hoje, estou razoavelmente bem na carreira acadêmica. Faz muito tempo que moro na casa da minha mãe, ela respeita minha privacidade, eu economizo e está tudo certo. Já tive uma ou outra namorada, mas nenhuma engrenou a ponto de me casar.

Meu corpo está enorme há anos, porque tenho compulsão por comida e não gosto de me exercitar. Me movimento com dificuldade, pois teria que emagrecer para diminuir as dores nos pés – já quase precisei operá-los, mas consegui melhorar com fisioterapia.

Além de ser gordo, tenho o pênis pequeno para os padrões femininos, vamos dizer assim. Contudo, sei dar muito prazer para as minhas parceiras, com brinquedinhos e habilidades que fui desenvolvendo ao longo do tempo. O que mais as atrai é, certamente, meu jeito discreto, de poucas palavras, até misterioso – já me disseram – além de um humor ácido e inteligente que faço questão de alimentar. Ou seja, ganho as moças pelo ouvido, mas acho que a falta de cuidado e persistência com a minha saúde e outras coisas que não sei obviamente explicar (embora tenha feito mais de 10 anos de análise e seja uma pessoa bem ciente das minhas autossabotagens), acabam por atrapalhar a evolução das relações para um possível casamento. Gostaria de morar junto com alguém e, quem sabe, até ser pai.

Resolvi escrever porque estou vendo o tempo passar e gostaria muito de conseguir sair desse buraco onde me meti, o da compulsão. Já consegui fechar a boca várias vezes na vida, emagreci, mas não consigo persistir na decisão…Tenho força de vontade para começar, mas o que preciso para me manter no caminho desse cuidado? Sei que isso vai reverberar positivamente em todos os aspectos da minha vida. Será o famoso “medo de dar certo”?

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Caro Bernardo,

Gostei de ler o que escreveu: simples e corajoso, não se esconde debaixo da saia da mamãe (apesar de morar com ela, rs… Entenda que essa não é uma crítica e sim um: “fazer o quê nessa realidade atual?”).

Pelo que entendi, apesar de ter sobrepeso, você vai à luta com as mulheres, sabe agradá-las e tem autoestima. Além disso, é espirituoso e humor é fundamental! Parabéns! Muitos homens, com essa bobagem de pênis pequeno, pela ignorância no assunto, ficam escondidos e martirizados, só usando serviços profissionais. Que maravilha você ter essa confiança em si e nessa parte tão valorizada pelo homem que é fazer sexo, agradar as mulheres etc. Já é um enorme caminho andado. Você nem faz ideia! Um dia eu lhe conto o que as mulheres realmente gostam. Posso adiantar que a maioria, com uma cultura razoável, não está nem aí para o seu piu-piu!

Vou esclarecer uma coisa que acho que, com tantos anos de análise, você já sabe: compulsão é doença, doença mais que comprovada. E para mantê-la quietinha, pois não há cura, tem que querer. O primeiro passo é querer verdadeiramente e reconhecer que você não dá conta dela por muito tempo. E, para isso, tem que buscar lá no seu fundão o que você ganha com isso e os ganhos secundários continuando acima do peso (além de dor nos pés e em outros lugares).

Existem muitas explicações para esse “medo de dar certo “, mas, para mim, é o medo do desconforto causado por novas atitudes que levam à procrastinação, por exemplo, ”como viver sem comer tudo que gosto, da maneira que gosto, e tal”. Posso garantir que é pura fantasia. Quando você trabalhar na busca dessa vontade, vai perceber que tudo é possível sem o tamanho do desconforto que fantasiamos.

Para tudo se dá jeito, só precisamos querer. Quando queremos pra valer, conseguimos nos comprometer e, nos comprometendo, o Universo conspira a nosso favor e as vontades e execuções dos projetos passam a ser mais suaves.

Se quiser continuar nosso papo, e trocarmos ideias de como controlo minhas compulsões – o que vem dando certo há 31 anos – é só chamar. Você já entrou no processo do momento em que pediu ajuda, agora siga em frente. Estou aqui!


Vontade, bons pensamentos a seu respeito e alegria de viver.
É o que desejo. Sempre!


Stella Mar
conversecomstella@gmail.com

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