Francisca, Francisquinha, Magricela, Chica

Francisca, Francisquinha, Magricela, Chica

Por Stella Rebecchi

A mulher que desde mocinha me embalou, conseguiu parar meu choro de nenê quando todos à minha volta mostravam impaciência, alimentou, cobriu de beijos e afagos, me aqueceu nas manhãs friorentas de São Paulo,doou seu coração, seus dias, sua vida.  Cuidou de mim, de minha infância, minha adolescência, mocidade, casamento, meus filhos. Participou de todos os meus lutos, de pai, de filha, de mãe, de irmão. Meus choros, lágrimas, gargalhadas e sorrisos. Acho que ela mais chorou do que riu.Fez com que minha vida fosse mais fácil.

Como agradecer? Sacrificou sua vida, sua feminilidade, seus possíveis amores, seus desejos, por mim e toda minha família. Digo sacrificou porque, sacrificou. Poderia ter dito mil nãos!

Chica, nunca terei palavras, ações, sentimentos que exprimam minha gratidão. Morgana Masetti tem um projeto chamado VOZES onde delicadamente expõe suas feridas e a importância dos comportamentos mais humanos e interessados dos hospitais. Foi vítima de um acidente brutal e não fosse o cuidado extremo que teve quando internada durante longos meses em hospital de gente humana e espiritualizada ( nada a ver com religiosidade), não estaria aqui para compartilhar seu projeto.

A história acima tem a ver com Chica, que um dia foi diagnosticada com câncer de mama. Ao se consultar com o médico que lhe deu o diagnóstico, correu que nem alucinada de qualquer possibilidade de um tratamento e cirurgia, tal a inabilidade do infeliz. Ele a deixou em pânico e aparentemente sem saída. Não quis contar para pessoas próximas nem distantes. Muito humilde e sem cultura, filha de pescadores de TOC-TOC, litoral de São Paulo, sentiu vergonha e medo. Sentiu muito medo e o médico não lhe deu nenhum suporte emocional. Apenas explicou friamente que ia “ fazer um corte daqui do pescoço até a barriga, e depois costuro”.  Fiquei sabendo de tudo isso muito mais tarde. Ela morava em São Paulo e eu no Rio. Quando a trouxe para um tratamento no INCA , já era tarde. Não me lembro quanto tempo passou em casa. Apaguei de minha mente. Só recordo dos horrores que ela sentia. Volto para a necessidade de mais amor, mais compreensão, mais humanidade, mais cultura nos profissionais da saúde. Não digo que ela teria sido “salva” se não fosse o ocorrido, mas certamente evitaria tanto medo, horror e dor.

Minha homenagem à todas as mulheres que passam e passaram por essa provação.

Que Deus lhes abençoe e não lhes esqueça jamais.Que abra as mentes dos profissionais que escolheram profissão tão difícil e sofrida.

Amém!

Stella Rebecchi

2 respostas

  1. Compartilho do amor e dedicação da Chica. Mulher incrível, guerreira e dedicada. Passou bons e maus momentos em nossa companhia e nunca abandonou o barco. Sou grato, imensamente grato a todos os momentos que vivi ao lado dela e sinto muitas saudades!

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