O carteiro atropelador

[vc_row][vc_column width=”2/3″][vc_column_text]Entro num táxi, motorista simpático e falante, horrorizado com o pneu careca do colega, numa Fiat Doblò ao nosso lado.

Eu queria mais era ficar quieta desfrutando do sentimento prazeroso e reconfortante que estava após uma boa sessão de psicoterapia. Me sentia ainda como um cachorrinho abandonado que tomou chuva e que encontra um colo amoroso. Queria o silêncio, não podia deixar que aquele sentimento e sensação terminasse. Depois de comentar muito sobre o descuido dos taxistas e as novas leis para carro velho, chegamos à Lagoa num dia azul e de sol! Entramos na Visconde de Pirajá e eu disse que ele podia parar à esquerda, logo ali à frente.

Ele foi encostando devagar e eu abri a porta do lado esquerdo antes de parar totalmente. Foi aí que ouvi um enorme barulho, um estrondo que a princípio não deu para perceber o que era, e me assustei. Saí do taxi com o coração a toda, os olhos arregalados, e vi uma bicicleta dos Correios no chão, cartas, envelopes e elásticos espalhados pela calçada e o carteiro caído mais adiante parado que nem desmaiado ou morto! Minha Nossa Senhora dos Carteiros, socorro!

Nisso meu Nextel toca e é Carlos, meu filho falando da compra de uma sala em Ribeirão Preto!  Eu não conseguia apertar o botão e soltar na hora certa; ele ficou nervoso, pois ouviu a barulheira de toda aquela gente e eu falando que naquele momento não dava para falar. Ele, também assustado, queria avisar meu marido, meu advogado, chamar uma ambulância… “Para o carteiro, não, para você”, dizia ele! Gente aparecendo, uma moça de terninho preto tentando ajudar, palpites de todo o lado e eu que nem uma parva olhava aquilo tudo sem saber o que seria mais importante. A porta do táxi não fechava mais, empenou. O taxista sofria, pois “ainda faltam duas prestações para pagar o carro e a franquia do seguro é de mil e trezentos reais”. Acabava com o mês dele e da família.

O da bicicleta tentava se levantar do chão (graças à Nossa Senhora dos Carteiros) e se olhava para ver se estava muito machucado. Eu lhe perguntava se havia quebrado algo ou se tinha batido com a cabeça. Ele dizia que não. Mais idiotizada  ainda, perguntei se não queria tomar um café comigo ali na galeria.

A moça do terninho preto, que agora já se dirigia a mim e também ao atropelado pela porta, que se levantou, perguntava se eu tinha seguro… eu ainda respondi que sim, mas que burra, de que me adiantava ter seguro se eu não fiz nada a não ser abrir a porta para sair do táxi! O motorista me pediu uma ajuda para pagar a franquia.  Só faltava essa! Pedi que escrevesse os dados de sua conta bancária e seu telefone. Dei o meu a ele para se tranquilizar. Antes de ir embora, já nem lembrava para onde, falei para o atropelado tomar um banho e passar bastante sabão nos ferimentos… que a rua era suja… e que fizesse bastante espuma…E não se esquecesse de tomar Arnica. Você tem Arnica? Ele nem respondeu.

Entrei no número 550 da Visconde de Pirajá para ir ao consultório da minha querida clínica geral, professora de biomolecular; mas antes, parei para um café expresso com biscoito crocante porque percebi que estava tremendo e, no dizer da do terninho preto, que me acompanhou até o café: “A senhora precisa se acalmar, está muito nervosa e pálida!”. Mas estava bem, e melhor fiquei ao perceber que poderia ter sido um grande bode! Comecei a rir, rir, e quando olhei para o lado estavam várias pessoas rindo comigo e elas nem sabiam por quê![/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/3″][/vc_column][/vc_row]

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